quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Desamores

Entre os copos de cachaça, num bar qualquer, lá estava ele sentado a pensar na vida. Todas as noites fazia o mesmo: tomava um banho quente de arrepiar os pêlos, vestia suas melhores meias, penteava seu cabelo com mousse, até perfume passava! Ia à janela vê-la passar toda charmosa dentro de vestidos insinuantes que valorizavam sua silhueta de elegantes curvas e seios fartos. Seus cabelos ao vento traziam, no lugar da usual presilha prateada, uma flor de hibisco. Fazendo as vezes de carrinho de compras havia um homem carregando tomates e verduras dentro de sacolas de pão. Um homem, oras! "Como ela nunca me notara?", matutava. "Uma tão simples flor é para mulher... ich... comum! Ela merece rosas... mil rosas das mais... ich... belas existentes... Nada de hibiscos de veraneio." Com jargões e frases feitas soltas em momentos mais despretenciosos todos pensavam tratar-se ali de um poeta porém era apenas um sofredor atingido e destruído pelo amor platônico alimentado de bobeira. Naquela noite ele tomou seu último banho, um banho gélido sem vontade.

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